Chegou ao fim um dos Tribunais do Júri mais emblemáticos dos últimos tempos. Durante dois dias, as atenções se voltaram para o Fórum de Pinhalzinho. No banco dos réus, o responsável por ceifar vidas e destruir sonhos. A alguns metros dele, Promotores de Justiça carregando nos ombros a responsabilidade de atender ao clamor de toda uma sociedade.

A sentença para o autor da chacina da creche de Saudades foi lida às 20h32 : 329 anos e quatro meses de condenação em regime fechado por cinco homicídios triplamente qualificados (motivo torpe, meio cruel e emprego de recurso que dificultou a defesa das vítimas) contra três crianças e duas mulheres, e outras 14 tentativas de homicídios qualificados. Todas as teses da denúncia foram acolhidas pelo Conselho de Sentença.

Uma das vítimas de tentativa de homicídio, que preferiu não ser identificada mas acompanhou toda a sessão, agradeceu ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). “Fomos muito bem representados nesse dia tão difícil. Nossa gratidão aos Promotores por trabalharem por nós”.

Desde aquele fatídico 4 de maio de 2021, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) atuou com afinco na busca por justiça. Os Promotores de Justiça Douglas Dellazari e Júlio André Locatelli acompanharam todo o processo, desde a prisão em flagrante e a conversão para o regime preventivo, passando pela elaboração da denúncia e a instrução criminal, até o tão aguardado Tribunal do Júri.

Na sessão do Tribunal do Júri, Douglas e Júlio fizeram intervenções pontuais durante as oitivas e a argumentação da defesa.  Bruno Poerschke Vieira, que atualmente responde pela comarca, fez a sustentação oral, ressaltando a importância da condenação dentro de um contexto social. “Precisamos estancar essa ferida para que fatos como esse não voltem a acontecer”, defendeu.

Na réplica, Fabrício Nunes falou sobre o sentimento de quem perdeu entes queridos. “A pior dor do mundo é perder um filho. Nada pode ser mais cruel, mais terrível. Resta à comunidade de Saudades a esperança da justiça”, disse.

Os quatro Promotores de Justiça conseguiram, juntos, provar aos jurados que o réu possuía plena capacidade mental e planejou os crimes minuciosamente ao longo de dez meses.

Um forte esquema de segurança foi montado para garantir o bom andamento da sessão. Quatro agentes de operações da Coordenaria de Inteligência e Segurança Institucional (CISI) acompanharam os trabalhos do início ao fim.

Após o encerramento da sessão, o réu retornou ao Presídio Regional de Chapecó e o público voltou para casa mesclando emoção e alívio. As lágrimas da dor se misturaram a semblantes consolados pelo tão aguardado desfecho do caso que mudou para sempre a rotina de uma pequena e acolhedora cidade do Oeste catarinense chamada Saudades.